terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Eu quero um amor...


Eu quero um amor que me deixe extasiada, mas que me faça sentir o seu toque.

Eu quero um amor que me beije na chuva, que me puxe pela cintura e dance até amanhecer.

Eu quero um amor que caiba nas minhas mãos, mas que seja grande o bastante pra invadir minha alma.

Que seja forte o bastante pra preencher meu coração, mas sensível o bastante para não quebrá-lo


Eu quero um amor... Eu quero um amor que me mantenha acordada, e mesmo assim, que me deixe descançada.

Eu quero um amor que me conte histórias, que me pegue pelas mãos e me ame até anoitecer.

Eu quero um amor que caiba na minha cabeça, mas que seja do tamanho perfeito para nunca sair do meu coração.

Que seja frágil em suas dores, e alegre em suas vitórias.

Eu quero um amor que me prenda nos braços, mas que deixe meus sentidos livres.

Eu quero um amor que divida minha voz, mas que misture seu cheiro com o meu.

Um amor que cheire a café fresquinho pela manhã, a queijo derretido no começo da tarde,flores desabrochando no início da noite.


Eu quero um amor que me diga a verdade mesmo eu estando feia, mas que me trate como um anjo.

Eu quero um amor que me complete, e que só seja completo comigo.

Um amor que acorde cedinho só para me olhar, e que finja estar dormindo para quando eu acordar olhá-lo também.

Eu quero um amor que goste de sonhar comigo e que me deixe sonhar com ele.

Eu quero um amor que não se importe com meu cabelo bagunçado, meu mau-humor e minha vida confusa.

Ou que se importe, mas que me ame assim mesmo.

Eu quero um amor que tenha altos e baixos comigo, mas que esteja sempre tentando estar no meio.

Um amor primavera, verão, outono e inverno.

Um amor um, dois, três quatro.

Um amor preto e branco.

Um amor amigo.


Eu quero um amor que se importe com o céu e com as flores, e que não se mate de preocupação pela a conta de luz.

Que seja um doce, mas que saiba punir minhas loucuras.

Eu quero um amor que compreenda a minha loucura e que me transforme em mais sã.

Um amor-paixão, amor-loucura, amor-cristão, amor-ardente.

Um amor cinco, seis, sete, outro.

Um amor colorido.

Um amor presente.


Um amor completo, um amor meu, mas que me ensine a viver na primeira pessoa do plural.

Um amor liberto, um amor cristão, um amor ateu. Que me ensine a viver na primeira pessoa do plural.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Nós


Das tuas veias sai o gosto amargo
Da realidade que eu não sei viver
Da realidade que reneguei pelos vales e montes
Durante a passagem do vento e do tempo
Até compreender que apenas sou o que és
Como um duplo espelho de nós

Não obstante, renego-me a ser isso
Porque "isso" é nada
E no nada cabe tudo
Exceto as coisas pelas quais não sei sofrer.

O peso do teu corpo frágil e magro pesando ao lado de minha cama
Acorrentado pela liberdade que escolheste viver

Conheces o peso da tua Liberdade
E também o peso da minha,
que viaja pelos teus olhos
Sem nem mesmo eu te tocar

Porque no fundo vives em minha alma
Solta e ao léu
Neste mundo que de tão frágil e pacífico
ficou preso no Silêncio eterno nossos pés afastados.

domingo, 27 de junho de 2010

27

Tem(p)o o Tempo.
Tal como é: Simples Tempo.
Palpitar de relógio quase ingênuo anunciando que o dia de hoje chama-se “27!” “Muito Prazer”.
“Chame-me de Nostalgia ou Saudade”.


Hoje.
(Ho)(Je)
Algum francês diria: Oh! Je peux, e na hipótese mais banal sairia Oh! Je T’aime.
Amor por Amar. Amar por Amor. E lá se vai mais uma grande vida desperdiçada pela própria brutalidade da vida.
Realidade, o que respeito em ti, é que castigas só por existir.


Agora
deitam-se comigo rosas de um pântano distante, que possuem a forma mais bela e singular de viver.
Belas Criaturas nascidas das sombras e da sensatez.
Flores de Lótus que reluzem.


Mas flores que nascem do lodo, ironicamente, demoram a morrer para mim, pois as amo infinita e platonicamente por serem tão belas, puras, mudas, violentas, cheias de vida e compreensão que, possivelmente, elas se desfazem do lado mau que escondem, pois sabem que suas existências, imersas em minha essência de uma forma muito oculta, não se parecem com nada: Simplesmente existem.
São simples rosas que logo quando eu tiver coragem, hão de desaparecer como simples mistério que já desvendei.



Tu
Simples: (TalcomoésUbíquo)


Vejo, sentada ao lado de um caçador (de sentidos)
A Lua que me emudece
E perto dela voam Milagres,
Migalhas,
Meu carinho pela tua alma.


Estás no espaço
Encostado em um pomar secreto
Secreto e mudo


E minha alma agora pode viver em paz
Fingindo que leu teus desejos
Guardando na sombra da tua vida
Todo teu mistério
Para não sofrer.


Good Night, Bacterium
(Boa Noite, Bactéria)
I see the birds shinning
(Eu vejo os pássaros brilhando)
And life scaping
(E vida escapando)
Faraway my hands .
(Longe de minhas mãos)

Life is now an endless accident
(A Vida é agora um acidente infinito)
Without you
(Sem ti)

terça-feira, 22 de junho de 2010

Sorrow


O Mundo te condena prematuramente
E me obriga sobreviver longe de ti
Para que sua existência não seja castigada logo do primeiro ato
E ainda possa alimentar-se de mim
Tornando-me fraca e inútil,
Entre as paredas que me separam da minha miséria e de tua benevolência.


Esse mundo, por ter me concebido o ar , é em suma indigno de compreender
Pois toma de mim o direito de conhecer a tua vida.
E adorar a tua boca que brinca em mil rotações.
Porém o perdoo
Pois se caso ele não existisse,
Eu não teria chegado até essa metamorfose de hoje
Eu jamais conheceria a tua essência


Pois ele sequer conhece o modo que tu sorris,
Nem o barulho do teu pulmão quando estás ofegante
Mas sabe que és, de todos os seres, o único capaz de mostrar-me a razão de minha própria loucura.
Não obstante, o Mundo me ama como tu.
E me prende em sua gaiola
Onde eu sou apenas um pássaro que chora,
Que dorme,
Que grita,
E principalmente que sonha.
Para assim,
Colecionar milhões de fantasias que me salvem do silêncio
Que é compreender que na estrada que sigo tu estás longe do meu alcance.

E é assim que sobrevivo aos dias
Que vagam em um sentido oposto da vida
Que eu mimeografei em minha retina.

O Dia da Glória,
Aquele primeiro dis do mês de Dezembro
Que me fariam reconhecer teus dedos
Agora é só uma mínima lembrança
Do que nos foi roubado.

Assim, quem sabe, pagaremos pelo nosso pecado
Sobre tudo que esperávamos
E esqueceu de acontecer.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Boa Noite, Bactéria


Tu és como uma bactéria
Que se adaptou ao meu organismo
Que invadiu meu peito e se calou por lá


Eu ainda não te conheço por inteiro
Mas venho pela parte da noite para entender o que tu és
Se és matéria
Se és real
Porque até aonde eu conheço a tua alma
És apenas uma parte fantasiosa do que eu nunca acreditei,
mas do que eu sempre aceito por não conseguir viver só.


Porque a educação que tanto falas que possui em si não tem sentido
Já que entraste em mim com um súbito Desespero
Daqueles que passam colecionando todas as alegrias humanas
e depois despejam dentro da minha agonia
Alguma coisa sobre a vida.


O teu nascimento também não se justifica
Porque nasceste na rua debaixo
Perto de mim
E deverias ter permanescido aqui
Não obstante, partiste.


Mas a verdade é que diferente de ti, eu não amo teus pés
Inclusive os cortaria
Para que tu nunca pudesses sair da minha carne
Que vivesses gentil e pacífico dentro de mim
E se precisasses morrer, que te deteriorasse aqui
Perto do meu corpo
Das minhas veias e da minha derrota

No Sábado passado
quando tu me mandaste aquela fotografia ridícula
- E só era exatamente ridícula porque em suma era de mim que ela emoldurava a dor.
Aconteceu de meus olhos se esforçarem para não te repreender
Porque ali tu me jogaste a verdade do mar
E fizeste com que eu conhecesse a mim
Que caminhei pela vida tomando caminhos opostos ao que deveria
Para ir de encontro a ti


Mas agora
Que és bactéria e cansaste de sê-lo
Não paras para me ouvir um segundo
E me fazes recomeçar tudo que tem dentro de mim
Como se eu fosse uma máquina que te desse vida
Que te desse voz
Que te mostrasse que não és só.

Um dia as coisas se encaixam ou se separam de vez
Só que tu ao me deixar
Levou todo meu corpo contigo

E agora Londres não é tão mais bonita
Nem me lembra a tua pessoa
Pois as bicicletas agora rodam sozinhas
E os dois intimos amigos já caíram da prateleira
Não há mais pessoas na rua
A Cidade perdeu a luz

Eu já não tenho guia
Só tenho minhas lágrimas
que trouxeste gota por gota do mar que nos separa

E hoje é tristeza
Porque eu não sei o que acontece
Nessas passagens da vida
Que me fazem perder a morada

Porque diante da vida eu me curvo
E me nego para o mundo
Mesmo sabendo que o preço disso é não respirar.

Porque a minha existência depende da tua
E eu que nunca tive cura
Comecei a tentar amar.

Boa Noite, Bactéria.

domingo, 6 de junho de 2010

Silenzio


Se tu te comunicasses comigo pelo teu silêncio
E não pelas garras que me mostras quando eu te apresento a outra face da minha vida
Eu prometeria te mostrar
A realidade das tuas mãos

Se tenho três irmãos
Dois cachorros
E um teatro
Isso não te preocupa
Mas se os tenho e da tua existência os escondo
Tu te exasperas
Me julgas cruel
Dizes que não acredita
Choras em cima da pedra

Mas se eu te nego a essência dos outros
É para te livrar do peso que o mundo carrega
E não para te crucificar
Para que vivas só em meu quarto
E nele a tua tristeza nunca possa habitar.

Quero ver a tua complacência coecer-me
E a tua ignorância calar-se em tua boca
Para que possamos construir um mundo que é só teu e meu.

Que não precises sofrer
Quando sentarem na mesa da tua casa
E reclamarem da tua própria comida
E da lampada que invade a tua agonia
E ofusca a tua vida

Quero que jogues
No fundo do poço
A tua coexistencia com o mundo
E que vivas assim
Em eterno silêncio
Entre mim e minha alma

Para que meu amor por ti se permute
nas tuas próprias faces
E nunca se perca
E minha vida se entrelace na tua
Acima do transcedente.
Como areia no tempo.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Viva o anarquismo!
Viva a arte e o conhecimento!
O homem como o homem!
A existência e a essência em intimo contato!
O ser e o aparecer se relacionando e transformando a vida não em um inferno, mas eu m um convívio!
Viva!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Sur le Miroir


Mon couer et mes yeux sont fatigué parce tes mots me à avalé dans votre folie
Et maintenant je suis seulement quoi vous avez rêvé:
Un peu d'arsenic qui s'instale dans ta bouche
Et vous voler le droit de chanter
L'archéologie qui se architecte dans tes divagations
Mais qui ne devient vrai

Et dans cette moment, je deviens ce que tu es,
Et je teste ta magnificence sur le miroir
Cosmiquement abandonné par tout le bonheur qui existait autrefois
Je vais dormir demain.


-

Meu coração e meus olhos estão cansados porque tuas palavras me engoliram dentro de tua loucura
E agora eu sou apenas o que tu sonhaste:
Um pouco de arsênico que se instala em tua boca
E te rouba o direito de cantar
A arqueologia que se arquiteta em tuas divagações
Mas que jamais se tornam verdade.

E nesse momento eu me torno o que tu és,
e testo tua magnificencia diante o espelho
Cosmicamente abandonada por toda a felicidade que existiu antes

Amanhã dormirei.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A Liberdade e a Flor

I

As tuas sete bocas
Que comiam rosas e frutos,
Que cantavam líros nas ruas,
Agora mastigam relógios.
Mastigam as grandes festas
E depois vomitam mentiras e vergonha.

Tu te tornas um monstro, mulher.
Em uma terra de gente que é monstro também.
E fazes isso para que alguma coisa te diga que
"Não estás sozinha nesse mundo"


Mas és sozinha.
Nesta vida de homens abortados

De dinheiro e de desgraça
nas supostas orações de um Rosário.


II

Dentes.
Posso arrancá-los todos com um só murro.

Mas eu não te tomaria
o direito de ter dentes.


Vem cá
Chegou a hora de colocar a mordaça


Para que tu vejas
na tua desgraça
Que tens dentes
Não obstante
Que não pode usá-los
Que estás no sufoco
Que estás no silêncio
Que tua grandeza volveu ao nada
Caíste em desapego.


III


A tua vida passa agora
Na frente da minha janela
Como uma ave de rapina
Que voa ligeiro,
colecionando pedaços de céu.


E quando reconheces tua tirania
É tarde demais
É agonia
E cais pálida e em pó,
tal qual fênix
rodeando os belos Ipês



IV


Agora eu afirmo
Quase que contrariado
E muito em segredo
De mim para mim
Que a mulher que amei
Criatura ínfida em minha alma
Se jogou ontem,
ao meio dia,
da ponte de Itabira.
Caiu na cabeça de Dante
Que ao conhecer tamanha beleza
Gritou:
Batatas! Batatas!


V


Batatas. Era o que procurava o homem
Que despencou do andaime
Mas ninguém notou.
Era o que o homem, ao inguiçar a âncora sonhava
Mas ninguém notou
A queda foi violenta
Lenta.
Vio.
Violeta.
Cor de chumbo, Cor de água.
Cor de nada.


Eram todos criaturas ínfidas.
Mas ninguém nunca notou.


VI


É por isso que os homens de terno
gostam tanto de verbos,
de notas
e de copos cheios de cicuta.
Gostam do grito que sai dos verbos
Mesquinhos,
mal mordidos,
minimalescos.
e que gritam:
"Eu não sou demagogo"


Só que és,
és verdadeiramente inescrupuloso
Como o Radical
Que de tão ditador ficou sozinho.
Apenas com seu medo engasgando a garganta.


VII


E tristes vão,
abrindo covas e se enterrando.
Até que suma,
n'um rastro de desespero,
A Liberdade e a Flor
da mulher que eu tanto amei.


E que nos encaminhemos n'um rumo sem volta
até São paulo
Que esqueçamos Itabira.
Porque aqui não cabe o ato de amar
Só cabem mentiras recortadas de artigos políticos
E que caem
mordidas
para sempre.

terça-feira, 6 de abril de 2010

protesto.


Você pode me julgar como quiser,e inclusive pensar que meu hábito é inferior aos bons costumes de vossa estimável burguesia, porém, não pude deixar de ouvir a chacota de três aborígenes que seguravam suas pastas de couro(como se fossem ouro), e descobri que na terra que o presidente da república tem apenas dezenove dedos e que o povo rico se veste todo em Black tie, o humor brasileiro advém da desgraça dos homens. O desespero alheio vira comédia dentro do senado e o direito à vida é eternamente impedido de ocupar os oitenta e um lugares de uma utópica democracia.

Após esse fato- e posso afirmar que muito lamentável-, sentei-me na varanda do meu quase-quarto - que muitos a chamam de suicida por não ter parapeito- e tive o desprazer de ver um homem ser assaltado.
"E agora, Deus?" ele certamente interrogava isso de si para algum cosmo que não pôde deter sua desgraça " Cadê o dinheiro do pão e do leite?"

É nesta selva de covardes leões e pobres cordeiros que o céu parece estar um pouco mais longe de nós, e nos faz ficar até um pouco infelizes e melancólicos, e talvez, seja por isso que o desafortunado assaltado sentou-se ao meio fio e pôs-se a olhar o asfalto – decerto não encarava o céu por não precisar se sentir pior do que já estava.

Se ele chorou, não sei dizer. Certamente eu o faria em seu lugar. Poderia ele até mesmo ser um ladrão - e como diz aquele ditado popular: Ladrão que rouba ladrão...
Não! Ninguém possui o direito de tirar o leite e o pão de uma boca que grita sedenta e faminta.

A minha revolta talvez tenha sido maior que os meus pés, pois se eu pudesse cronometrar o tempo que levei para adentrar a sala diria que foi todo o tempo do mundo, e que nos exatos momentos em que andava, emergia de dentro de meus olhos cansados uma vontade subumana de abraçar o mundo e acalentá-lo por um pouco – quem sabe eu poderia curar-lhe algumas dores e ainda fazer-lhe alguns mimos de amor.

Mas, se a vontade de ser mãe de uma nação por alguns instantes é grande, a verdade de não poder fazer muito mais que lamentar-me é maior ainda, e cai em cima do tapete persa em forma de gotículas salgadas. O mais estranho é que sentir dor ou alegria por isso é algo que me foge o juízo.

É nesta terra seca que os homens marcham com capacetes e vendas, formam um conjunto e quando olham para si estão vazios.
É nesta terra seca que as mulheres tecem rosários hipócritas, formando uma sociedade e permanecendo sozinhas em seus leitos.

Eu quis correr em direção à varanda e eu corri
Eu quis pular para talvez chegar próxima ao triste rapaz da calçada,(e quem sabe, abraçar-lhe) e eu pulei.
O mundo e as coisas continuam iguais e talvez nunca compreendam o meu protesto.
Porém, eu o fiz.

sexta-feira, 26 de março de 2010

menino do outro lado do (a)mar


Quando eu vi você, menino bonito que mora do outro lado do mar, alguma coisa gritou dentro do meu coração
O que antes estava destruido pelo fato de não saber o que é amar se revigorou e tornou-se só teu.
E tu, menino bonito que mora do outro lado do mar, disse "amor, renasce" e ele renasceu.


Se eu pudesse mimeografar o nosso inverno nitidamente em uma folha de papel eu estaria tirando de dentro do meu peito o direito de ter-te só pra mim
Porque aí outras pessoas te conheceriam e te amariam como eu, ou até mais.
Ou até mais, não, seria impossível amar a ti como te amo, já que amo-te como a quem ama o simples ato de amar.


As vezes, menino bonito que mora do outro lado do mar, eu sento na porta de casa e me perco olhando a nossa foto
Você, com aquela cara de sempre, muito emburrado.
E eu, sorrindo feliz, de cara limpa e alma ao vento
Nos nossos olhos há um certo mistério, você não concorda?
Olhe a foto novamente, P1022450[2] e você vai concordar.

Nesse mistério se esconde a grande beleza de precisar-te tanto mais mesmo assim te deixar morar do outro lado do mar.


Ontem, descendo as escadas do meu prédio, me lembrei de você, do nada.
Sempre é assim... voce aparece na minha vida nas horas mais bobas.
E por um acaso, me salvou de tropeçar em um gato meio peludo e velho, que estava logo após o próximo degrau.
Admito que não fui muito bondosa com ele, de um jeito ou de outro, eu o assustei. porém, antes com uma lágrima que caiu em sua cabeça do que com um pisão do meu tênis.
Eu quis tirar uma foto do pobre felino para te mandar- que tornou-se uma fera -
você, boboca do jeito de é, ia passar a noite rindo do pobre coitado.... te contar detalhe por detalhe como foi grande a revolta desse gato, ao ponto de rasgar aminha meia calça com uma só garra.
Para ele nada mais justo que um sorriso, você não concorda?
Eu pensava em você, e em como eu poderia me redimir para com aquela bolota peluda, e explicar-lhe que eu estava apenas destraida e apaixonada.


É bonito como você entra na minha vida de vez em quando, sabia? Por exemplo, ainda agora eu ouvia uma música que diz assim :
" quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar..."

E eu me lembrei de mim e você sentados no banco do ônibus, cansados, felizes e nostálgicos -talvez eu estivesse um pouco mais nostálgica que você, como sempre- nos conectando pelo silêncio, apenas teus olhos nos meus e os meus nos teus.

Semana passada, quando você me ligou - e nem eu nem você sabemos porque isso aconteceu só na semana passada, já que a saudade está dentro de nós faz muito tempo- eu senti vontade de rir e vontade de chorar ao mesmo tempo.
Quando você me contou...
Não, não irei falar o que você me contou com as minhas palavras, hei de dizê-las com as suas para que transmita a verdade do teu sentimento:

"Você vai ser umas das poucas pessoas que me vou relembrar no resto da minha vida. Uma pelo que você ée outra pelo que você transmiteE aquela foto vai ser vendida por causa de você; a minha professora de fotografia pediu para eu coloca-lá para vender"

"Por minha causa?" - Eu preciso dizer que sequer tinha entendido o seu inglês carregado.

" Porquê foi você quem começou a revolução dentro de mim."

... Eu fiquei tão...


" Vou te falar uma coisa que eu nem queria falar, so queria que ficasse para mim, mas é tão linda que eu vou falar"

"Pode falar"

"Você foi a unica pessoa que eu conheci que nunca achei negatividade ou fraqueza"

...Eu fiquei tão... eu perdi as palavras dentro da minha boca e encontrei o significado do silêncio dentro da tua vida.


Isso não é tudo, menino bonito que mora do outro lado do mar.
Mas eu preciso parar de escrever e correr até o correio para poder enviar-te esta carta, senão ela não chegará antes da próxima semana.

E eu estou te esperando, menino menino que cabe dentro do espaço de amar.

Eu te amo e isso é tão... bonito.



ass: menina que mora do outro lado do mar.

sexta-feira, 5 de março de 2010

você é linda, moça, só basta encontrar.


- você é linda. você é para casar. você é muito pura menina, isso me emociona.
- Obrigada. Ninguém nunca fala isso para mim. Mas eu não sei se posso me sentir bem com isso, nunca amei uma segunda pessoa. Ninguém me acha, sabe?! Ninguém me procura.
- Ei, flor... o amor não é assim, não. A gente não procura, nem "acha". A gente encontra num domingo chuvoso de carnaval, ou em uma segunda feira de sol, quando as pessoas parecem muito distraídas. A gente encontra em uma sexta-feira treze, em meio à várias superstições. Encontra até, em um sábado aparentemente morgante, uma pessoa parada em uma fila de milk-shake e o faz perder o lugar. A gente encontra o amor dentro dos olhos de um homem cansado, ou de uma mulher faladeira. O amor é assim, flor: a gente não procura; Agente só encontra.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O pequeno príncipe


XXI



E foi então que apareceu a raposa:


- Bom dia, disse a raposa.


- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.


- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...


- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita...


- Sou uma raposa, disse a raposa.


- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...


- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.


- Ah! Desculpa, disse o principezinho.Após uma reflexão, acrescentou:


- Que quer dizer "cativar"?


- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?


- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?


- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?


- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?


- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."- Criar laços?


- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...


- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...


- É possível, disse a raposa. Vê-se tanta coisa na Terra...


- Oh! Não foi na Terra, disse o principezinho.A raposa pareceu intrigada:


- Num outro planeta?


- Sim.


- Há caçadores nesse planeta?


- Não.


- Que bom! E galinhas?


- Também não.


- Nada é perfeito, suspirou a raposa.


Mas a raposa voltou à sua idéia.


- Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas, e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.


O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:


- Por favor... cativa-me! disse ela.


- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.


- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!


- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.


- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...No dia seguinte o principezinho voltou.


- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.


- Que é um rito? perguntou o principezinho.


- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:


- Ah! Eu vou chorar.


- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...


- Quis, disse a raposa.


- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.


- Vou, disse a raposa.


- Então, não sais lucrando nada!


- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.Depois ela acrescentou:


- Vais rever as rosas. Tu compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te farei presente de um segredo.Foi o principezinho rever as rosas:


- Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu fiz dela um amigo. Ela é agora única no mundo.E as rosas estavam desapontadas.


- Sois belas, mas vazias, disse ele ainda. Não se pode morrer por vós. Minha rosa, sem dúvida um transeunte qualquer pensaria que se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que vós todas, pois foi ela que eu reguei. Foi ela que pus sob a redoma. Foi ela que abriguei com o pára-vento. Foi dela que eu matei as larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi ela que eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. É a minha rosa.


E voltou, então, à raposa:


- Adeus, disse ele...


- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.


- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.


- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.


- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.


- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa...


- Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

sábado, 23 de janeiro de 2010

humano.


Em janeiro ela estava ao lado dele. Corpos amarrados em sintonia, como dois apaixonados.
Pedro pintava um vaso de porcelana e Maria gostava de admirar. Admirava tanto que de hora em hora falava "Pedro como você é artista!" e gargalhava. Se conheciam. Se abraçavam nus, um dono do outro. Caíam de tanta fraqueza e amor. Eram livres para rolarem no chão. Aquele sentimento era carnaval na vida deles, escola de samba que entra na avenida e treme o corpo.Melhor que droga. Doce mentira de quem não quer ver, só sentir. Parte fantasiosa do que inventamos. Eles estavam perdidos, porém juntos.

Em fevereiro ele não estava ao lado dela. Corpos jogados em agonia, como dois desafinados.
Maria escrevia sua carta de suicído e Pedro a admirava. Admirava tanto que de minuto em minuto falava " Maria, como você é bonita!" e soluçava. Se desconheciam. Choravam separados -cada um dono da desgraça do outro- lamentando como dois bebês que chegam ao mundo e se decepcionam, cada um em sua solidão, imersos dentro de si. Esse sentimento é funeral na vida deles, ditadura militar que invade as ruas e nega a liberdade da flor. Pior que ópio. Triste verdade de quem vê e sente. Parte concreta do que inventamos. Eles estavam juntos, porém perdidos.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010


- Et allors monsieur, quoi faire? Quelle est le meilleur chemin?
- Le meilleur chemin nous ne connaissons pas. Nous besoin de chercher. Chercher dans notre intérieur.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Uma história de amor e sol.


Era uma vez, um rapaz branco, de cabelos cor de mel, e que quando sorria sua boca formava um coração.
ele não era o mais sociável dos rapazes, nem o mais sedutor, e as vezes ficava dias trancado no quarto, comendo pipoca e assistindo filmes antigos.
Ele não gostava muito de calor humano, por isso, quase não saia de casa.

Exceto nos dias que o sol mostrava todos os dentes, porque aí podia sair sem guarda-chuva. E, aliás, era quando podia vestir a sua camiseta favorita: Branca e de tecido egípcio, sem nenhum tipo de estampa. Enquanto as pessoas reclamavam do calor, ele sorria.

Você pode achar que ele era só, que ninguém se importava com ele. Mas não é verdade.
Ele era cheio de vida. E quando saia no sol, seus cabelos chamavam atenção por onde quer que passavam. Não havia uma só mulher que não suspirasse o exalar daquele belo homem.

Mas ninguém é feliz só com os desejos de mulheres desconhecidas, não é? E é por isso que ele tinha um... besouro. Não! Besouro não! Besouro é um animal de seis patas e casco muito duro. Ele tinha um cachorro.

Mas cachorros não falam, e qualquer ser humano precisa de alguém para conversar. É por isso que ele tinha uma correspondente. Quando não estava um dia ensolarado - e seus cabelos cor do melhor doce que eu já provei não ressaltavam- , ninguém nunca se interessava por aquele rapaz tão pacato e simples, por isso um amor de correio era perfeito.

E era também por isso que ele morava na Noruega, assim, ela nunca precisaria vê-lo. Só que ele a amava e sentia-se culpado por estar tão longe dela.

Uma vez, andando na rua, conheceu uma mulher chamada Isabela. Que o fazia lembrar de uma frase em português que diz " Isso é belo" ou " Essa é bela" e até "Assa a Bela". E a convidou para um chá - sim, o seu cabelo estava cor de mel cintilante nesse dia. Descobriu que era escritora e descobriu seu endereço. Assim, passou a vê-la todos os dias até enjoar dela. Era perseguido. Ela dizia " você é a inspiração que eu preciso" e ele queria dizer " ASSEM A BELA ISABELA!" Ela cismou que ele era Oscar Wilde. A sorte dele é que além de ter cismado isso, ela cismou que seu cachorro era um lobo. É que a coitadinha era míope.

Mas isso não quer dizer que nosso rapaz não era inspirador. De certo, a sua benevolência era quase um rio de inspiração. Mas nunca quis servir de estro para uma mulher que não tinha amor. Ele não era "normal" como os outros homens para se sujeitar a isso, pelo menos, não normal a este ponto. Era porém, Feliz. Feliz, pois amava alguém.

Num dia de chuva, percebeu que sua felicidade ia acabando, e não sobrava nada para ele se alimentar - Sim, ele se alimentava de sua felicidade. Resolveu, então, partir para Toullouse e deixou o cachorro com a Isabela -riu quando imaginou ela correndo assustada por causa de um inofênsivo cachorro. Dormiu um pouco durante a viagem - com um papelzinho amassado na mão o tempo inteiro- e ao chegar, tomou um taxi até Impasse de Bittet, 401. Quando chegou, tocou a campainha.

"Ai, meu deus, Me ajuda" Ele pensou. Era um típico ateu não praticamente. Acendeu um cigarro e pensou "O que eu estou fazendo aqui?" Ele sabia o que estava fazendo lá, só faltava admitir. Resolveu brincar um pouco com aquilo, já tinha aprendido algumas coisas no teatro.

Assim, uma bela moça abriu a porta e viu aquele homem alto, de cabelo partido para o lado, com um cigarro na boca. Ela era meio burrinha, não tinha sequer perguntando "Quem é?" antes de abrir a porta. Mas tudo bem, aquilo deu margem maior para a peça teatral. Tudo bem, ela estava meio nervosa para isso.

ela olhou e pra ele e disse:
-Quem é você?
Ele tirou o cigarro da boca. Sabe o que ele falou? Você nunca vai adivinhar. Se você adivinhar eu te dou um chocolate e um beijo na boca de trinta segundos.
Ele tirou o cigarro da boca, e disse:
-HUAS MEIN LIEB BORTS.
E completou:
-Mein venit fuigs beqs hiem morte

Sabe o que ela fez? Ela começou a chorar, e o abraçou. E sabe por que voce nao entendeu o que ele disse? Porque ele falou norueguês!

Vou traduzir:
-Sou o irmão do seu amor-correio.
E completou:
-Vim aqui pra te dizer que ele morreu.

Quando ela finalmente parou de chorar, um gato parado na porta pulou em cima do nosso rapaz e arranhou 3/4 do braço dele. Ela o ajudou, apesar de recomeçar a chorar - O que o fez liquidar de vez com o seu papel de irmão de si mesmo.

Ele disse, como quem está quase morrendo de remorsso:
- Querida, pegue seu casaco vermelho, e largue os pincéis e o café.

Ela o olhou meio "hãn?" E ele percebeu. A angústia aumentou. E para disfarçar, claro, deu uma tragado no cigarro, um meio sorriso, e completou:
-Aqui não está chovendo, mas na Noruega está. Não pegue seu guarda-chuva, porque eu sou dono de uma fábrica de guarda-chuvas e te darei quantos você quiser.
Ela o olhou e disse:
-AMOR-CORREIO, É VOCÊ?
E ele respondeu:
-Não. Eu não sou mais seu amor-correio. Sou seu amor-presente.

Então, ela se virou, saiu correndo, pegou o casaco vermelho (do qual sempre falou tanto para ele), jogou o gato pela janela. Ele achou inclusive que fosse para punir o pobre felino. Mas não era. De certo estava apenas libertando-o. Ela não era má -talvez um pouco ingênua.

Ela voltou correndo. Chegou até a porta. Olhou para trás afim de saber se não estava esquecendo nada e deu um beijo (de trinta segundos) no nosso querido ator. Os dois partiram para Noruega. Fizeram o possível para serem mais que felizes. Ele e sua amada, A escritora míope e novo cachorro dela.

Ps: Foi eternamente sol na cidade dele.

mil beijos no bico.


- Querida, já pensou se a gente volta a ser como presa e caçador? Você poderia ser um coelho e eu um lobo, eu poderia ser uma borboleta e você uma perereca. Ou o contrário disso tudo.
- Antes isso do que ser da mesma espécie.
- Por que?
- Porque nós não iriamos mais nos reconhecer. Mas, Querido, animal por animal, é tão melhor ser eu e você.
- Mas, imagina só, se eu fosse um lobo e você uma loba: Nós fariamos lobinhos.
- É. Seria mais confortável do que ser um coelho.
- Você quer ser uma coelha?
- Não... Mas eu gostaria de ser um pássaro. O que você acha?
- Não. O gato come.
- Só por isso?
- Não. Porque o gato corre do cachorro.
- E duas formigas? Não.. duas formigas não! Esquece.
- Por que não?
- Porque as pessoas pisam nas formigas.
- E o tamanduá come.
- É...
- Eu seria um leão. Vida de leão é fácil. Tem sempre umas cinco ou quatro leoas que caçam por ele. A vida de leão é só comer, nos dois sentidos.
- Ah! Não sei, não. Eu seria qualquer coisa que voasse e pudesse ser amado.
- Vamos ser leoa comigo na África?
- Não sei, não. Para que cinco ou quatro leoas?
- É a natureza.
- Então tá..
- Você vai mesmo?
- Vou.
- Então vamos ser um passarinho! Mas qual?
- Não sei. Tem um que canta na minha janela toda manhã, mas eu não sei o nome dele.
- Por que você não pergunta?
- Porque ele só gosta de me acordar e depois ir embora. Que tal o bem-te-vi?
- Não. Muito feio.
- Então eu posso ser um bem-te-vi. Mas vai ser difícil encontrar um tão belo como você.
- Mas, querida, nós temos que ser da mesma espécie para ficarmos juntos. Não era esse o plano?
- Sim...
- Então por que você quer que eu seja outro pássaro?
- Eu não quero...
- Quer sim. Você sempre quer ser um diferente do meu.
- Claro que não. Mas me ajuda... Que passarinho?
- Você tem a beleza de um Azulão.
- Você acha?
- É de Azulão pra cima...
- Você quer ser um Azulão?
- Só se for com você.
- Mas nós temos que fugir das gaiolas, tá bom? É ruim viver aprisionado.
- Certo.
- Agora vamos deitar no nosso ninho? Eu estou cansado.
- Claro.
- Me dá um beijo no bico?
- Até mil beijos no bico.

sábado, 16 de janeiro de 2010


Eu quero te desejar o mundo
Se não o mundo todo, o mundo que você sonhar
Eu te desejo a paz de espirito, a felicidade da alma!
O direito ao grito.
Eu te desejo o sucesso do palco
Eu te desejo o direito de amar.
Eu te desejo que você nunca se inverede por maus caminhos! pois seria uma sacanagem com o mundo te perder.
Perder essa pessoa brilhante que você é.
Eu te desejo a natureza! A sede da vida! O vinho e o pão.
Eu te amo, Heitor.

O remédio para minha tristeza é não procurar-te nunca mais.


Para que sobre em mim só a ausência do que eu tive e não a esperança do que eu não posso mais possuir.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010


há uma parte tua em mim
pensas igual a mim
porém, diferente.

penso igual a ti
porém, diferente.

pensamos igual.
mas nenhuma parte desses pensamentos cabe dentro de mim ou de ti
então...
preferimos pensar diferente.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Dentro

Dentro do meu estômago
Há borboletas que dançam
Há pássaros que cantam
Há flores que desabroxam

Dentro dos meus seios
Há o líquido da vida
Há o mar que liquida
E um libído de extasiar

Dentro do meu coração
Há uma ferida escondida
Há uma antiga despedida
Há o simples ato de amar

Dentro da minha cabeça
Há uma profunda tristeza
E fogo a me incendiar

Dentro de mim há ti
A entrar e a sair
Sem sequer me avisar.

Homem

Ele paga a conta de luz
Mas vive na escuridão de sua própria mente
Ele bota o pão na mesa
Mas não tem fome da liberdade que sempre lhe foi de direito
Ele tem um carro na garagem
Mas vive sedento de medo de andar com seus próprios pés
Ele possui uma janela panorâmica, de frente para o Cristo Redentor
Mas está no sufoco,
No ato de quase morrer.
Preso à uma magia cor de giz.
Há água em sua torneira
Mas tem a alma suja, e acredita que há nisso alguma coisa poética
Ele não tem lágrimas,
Ele não tem coração,
Ele nunca soube o que é chorar.
Há dentro dele apenas um pássaro...
E um pequeno desejo em seus olhos:
Boiar n'um imenso mar sem fim.
Em seu infinito não quer a luz,
O carro,
A janela,
Ou a água
Quer apenas o pão
Quer a liberdade para ser o que é
Quer matar a fome
Fome que não tem fim.
Carne.
Cabelos.
Ossos.
E uma injeção de anthrax para acalentar a alma
Deterioram-se no palpitar do relógio os olhos tristes da solidão,
e vão se pondo,
dando lugar a carne prostituida da mulher que já não sabe o que faz.
Simples seria não viver ao ter que ver um resto de pureza escorrer como lágrimas pelas ruas da bela Paris...
Pelas águas do Canal da Mancha, até algum lugar finito que não tenho conhecimento.
Talvez a casa de alguém.
Que massificação é a infelicidade
Mãe da utopia
Mãe da poesia
No final, mãe de ninguém.
Só resta o fundo do poço
Nada de nada
E Edith...
nua e póstuma no frio da cidade que a condenou.