sábado, 23 de janeiro de 2010

humano.


Em janeiro ela estava ao lado dele. Corpos amarrados em sintonia, como dois apaixonados.
Pedro pintava um vaso de porcelana e Maria gostava de admirar. Admirava tanto que de hora em hora falava "Pedro como você é artista!" e gargalhava. Se conheciam. Se abraçavam nus, um dono do outro. Caíam de tanta fraqueza e amor. Eram livres para rolarem no chão. Aquele sentimento era carnaval na vida deles, escola de samba que entra na avenida e treme o corpo.Melhor que droga. Doce mentira de quem não quer ver, só sentir. Parte fantasiosa do que inventamos. Eles estavam perdidos, porém juntos.

Em fevereiro ele não estava ao lado dela. Corpos jogados em agonia, como dois desafinados.
Maria escrevia sua carta de suicído e Pedro a admirava. Admirava tanto que de minuto em minuto falava " Maria, como você é bonita!" e soluçava. Se desconheciam. Choravam separados -cada um dono da desgraça do outro- lamentando como dois bebês que chegam ao mundo e se decepcionam, cada um em sua solidão, imersos dentro de si. Esse sentimento é funeral na vida deles, ditadura militar que invade as ruas e nega a liberdade da flor. Pior que ópio. Triste verdade de quem vê e sente. Parte concreta do que inventamos. Eles estavam juntos, porém perdidos.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010


- Et allors monsieur, quoi faire? Quelle est le meilleur chemin?
- Le meilleur chemin nous ne connaissons pas. Nous besoin de chercher. Chercher dans notre intérieur.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Uma história de amor e sol.


Era uma vez, um rapaz branco, de cabelos cor de mel, e que quando sorria sua boca formava um coração.
ele não era o mais sociável dos rapazes, nem o mais sedutor, e as vezes ficava dias trancado no quarto, comendo pipoca e assistindo filmes antigos.
Ele não gostava muito de calor humano, por isso, quase não saia de casa.

Exceto nos dias que o sol mostrava todos os dentes, porque aí podia sair sem guarda-chuva. E, aliás, era quando podia vestir a sua camiseta favorita: Branca e de tecido egípcio, sem nenhum tipo de estampa. Enquanto as pessoas reclamavam do calor, ele sorria.

Você pode achar que ele era só, que ninguém se importava com ele. Mas não é verdade.
Ele era cheio de vida. E quando saia no sol, seus cabelos chamavam atenção por onde quer que passavam. Não havia uma só mulher que não suspirasse o exalar daquele belo homem.

Mas ninguém é feliz só com os desejos de mulheres desconhecidas, não é? E é por isso que ele tinha um... besouro. Não! Besouro não! Besouro é um animal de seis patas e casco muito duro. Ele tinha um cachorro.

Mas cachorros não falam, e qualquer ser humano precisa de alguém para conversar. É por isso que ele tinha uma correspondente. Quando não estava um dia ensolarado - e seus cabelos cor do melhor doce que eu já provei não ressaltavam- , ninguém nunca se interessava por aquele rapaz tão pacato e simples, por isso um amor de correio era perfeito.

E era também por isso que ele morava na Noruega, assim, ela nunca precisaria vê-lo. Só que ele a amava e sentia-se culpado por estar tão longe dela.

Uma vez, andando na rua, conheceu uma mulher chamada Isabela. Que o fazia lembrar de uma frase em português que diz " Isso é belo" ou " Essa é bela" e até "Assa a Bela". E a convidou para um chá - sim, o seu cabelo estava cor de mel cintilante nesse dia. Descobriu que era escritora e descobriu seu endereço. Assim, passou a vê-la todos os dias até enjoar dela. Era perseguido. Ela dizia " você é a inspiração que eu preciso" e ele queria dizer " ASSEM A BELA ISABELA!" Ela cismou que ele era Oscar Wilde. A sorte dele é que além de ter cismado isso, ela cismou que seu cachorro era um lobo. É que a coitadinha era míope.

Mas isso não quer dizer que nosso rapaz não era inspirador. De certo, a sua benevolência era quase um rio de inspiração. Mas nunca quis servir de estro para uma mulher que não tinha amor. Ele não era "normal" como os outros homens para se sujeitar a isso, pelo menos, não normal a este ponto. Era porém, Feliz. Feliz, pois amava alguém.

Num dia de chuva, percebeu que sua felicidade ia acabando, e não sobrava nada para ele se alimentar - Sim, ele se alimentava de sua felicidade. Resolveu, então, partir para Toullouse e deixou o cachorro com a Isabela -riu quando imaginou ela correndo assustada por causa de um inofênsivo cachorro. Dormiu um pouco durante a viagem - com um papelzinho amassado na mão o tempo inteiro- e ao chegar, tomou um taxi até Impasse de Bittet, 401. Quando chegou, tocou a campainha.

"Ai, meu deus, Me ajuda" Ele pensou. Era um típico ateu não praticamente. Acendeu um cigarro e pensou "O que eu estou fazendo aqui?" Ele sabia o que estava fazendo lá, só faltava admitir. Resolveu brincar um pouco com aquilo, já tinha aprendido algumas coisas no teatro.

Assim, uma bela moça abriu a porta e viu aquele homem alto, de cabelo partido para o lado, com um cigarro na boca. Ela era meio burrinha, não tinha sequer perguntando "Quem é?" antes de abrir a porta. Mas tudo bem, aquilo deu margem maior para a peça teatral. Tudo bem, ela estava meio nervosa para isso.

ela olhou e pra ele e disse:
-Quem é você?
Ele tirou o cigarro da boca. Sabe o que ele falou? Você nunca vai adivinhar. Se você adivinhar eu te dou um chocolate e um beijo na boca de trinta segundos.
Ele tirou o cigarro da boca, e disse:
-HUAS MEIN LIEB BORTS.
E completou:
-Mein venit fuigs beqs hiem morte

Sabe o que ela fez? Ela começou a chorar, e o abraçou. E sabe por que voce nao entendeu o que ele disse? Porque ele falou norueguês!

Vou traduzir:
-Sou o irmão do seu amor-correio.
E completou:
-Vim aqui pra te dizer que ele morreu.

Quando ela finalmente parou de chorar, um gato parado na porta pulou em cima do nosso rapaz e arranhou 3/4 do braço dele. Ela o ajudou, apesar de recomeçar a chorar - O que o fez liquidar de vez com o seu papel de irmão de si mesmo.

Ele disse, como quem está quase morrendo de remorsso:
- Querida, pegue seu casaco vermelho, e largue os pincéis e o café.

Ela o olhou meio "hãn?" E ele percebeu. A angústia aumentou. E para disfarçar, claro, deu uma tragado no cigarro, um meio sorriso, e completou:
-Aqui não está chovendo, mas na Noruega está. Não pegue seu guarda-chuva, porque eu sou dono de uma fábrica de guarda-chuvas e te darei quantos você quiser.
Ela o olhou e disse:
-AMOR-CORREIO, É VOCÊ?
E ele respondeu:
-Não. Eu não sou mais seu amor-correio. Sou seu amor-presente.

Então, ela se virou, saiu correndo, pegou o casaco vermelho (do qual sempre falou tanto para ele), jogou o gato pela janela. Ele achou inclusive que fosse para punir o pobre felino. Mas não era. De certo estava apenas libertando-o. Ela não era má -talvez um pouco ingênua.

Ela voltou correndo. Chegou até a porta. Olhou para trás afim de saber se não estava esquecendo nada e deu um beijo (de trinta segundos) no nosso querido ator. Os dois partiram para Noruega. Fizeram o possível para serem mais que felizes. Ele e sua amada, A escritora míope e novo cachorro dela.

Ps: Foi eternamente sol na cidade dele.

mil beijos no bico.


- Querida, já pensou se a gente volta a ser como presa e caçador? Você poderia ser um coelho e eu um lobo, eu poderia ser uma borboleta e você uma perereca. Ou o contrário disso tudo.
- Antes isso do que ser da mesma espécie.
- Por que?
- Porque nós não iriamos mais nos reconhecer. Mas, Querido, animal por animal, é tão melhor ser eu e você.
- Mas, imagina só, se eu fosse um lobo e você uma loba: Nós fariamos lobinhos.
- É. Seria mais confortável do que ser um coelho.
- Você quer ser uma coelha?
- Não... Mas eu gostaria de ser um pássaro. O que você acha?
- Não. O gato come.
- Só por isso?
- Não. Porque o gato corre do cachorro.
- E duas formigas? Não.. duas formigas não! Esquece.
- Por que não?
- Porque as pessoas pisam nas formigas.
- E o tamanduá come.
- É...
- Eu seria um leão. Vida de leão é fácil. Tem sempre umas cinco ou quatro leoas que caçam por ele. A vida de leão é só comer, nos dois sentidos.
- Ah! Não sei, não. Eu seria qualquer coisa que voasse e pudesse ser amado.
- Vamos ser leoa comigo na África?
- Não sei, não. Para que cinco ou quatro leoas?
- É a natureza.
- Então tá..
- Você vai mesmo?
- Vou.
- Então vamos ser um passarinho! Mas qual?
- Não sei. Tem um que canta na minha janela toda manhã, mas eu não sei o nome dele.
- Por que você não pergunta?
- Porque ele só gosta de me acordar e depois ir embora. Que tal o bem-te-vi?
- Não. Muito feio.
- Então eu posso ser um bem-te-vi. Mas vai ser difícil encontrar um tão belo como você.
- Mas, querida, nós temos que ser da mesma espécie para ficarmos juntos. Não era esse o plano?
- Sim...
- Então por que você quer que eu seja outro pássaro?
- Eu não quero...
- Quer sim. Você sempre quer ser um diferente do meu.
- Claro que não. Mas me ajuda... Que passarinho?
- Você tem a beleza de um Azulão.
- Você acha?
- É de Azulão pra cima...
- Você quer ser um Azulão?
- Só se for com você.
- Mas nós temos que fugir das gaiolas, tá bom? É ruim viver aprisionado.
- Certo.
- Agora vamos deitar no nosso ninho? Eu estou cansado.
- Claro.
- Me dá um beijo no bico?
- Até mil beijos no bico.

sábado, 16 de janeiro de 2010


Eu quero te desejar o mundo
Se não o mundo todo, o mundo que você sonhar
Eu te desejo a paz de espirito, a felicidade da alma!
O direito ao grito.
Eu te desejo o sucesso do palco
Eu te desejo o direito de amar.
Eu te desejo que você nunca se inverede por maus caminhos! pois seria uma sacanagem com o mundo te perder.
Perder essa pessoa brilhante que você é.
Eu te desejo a natureza! A sede da vida! O vinho e o pão.
Eu te amo, Heitor.

O remédio para minha tristeza é não procurar-te nunca mais.


Para que sobre em mim só a ausência do que eu tive e não a esperança do que eu não posso mais possuir.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010


há uma parte tua em mim
pensas igual a mim
porém, diferente.

penso igual a ti
porém, diferente.

pensamos igual.
mas nenhuma parte desses pensamentos cabe dentro de mim ou de ti
então...
preferimos pensar diferente.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Dentro

Dentro do meu estômago
Há borboletas que dançam
Há pássaros que cantam
Há flores que desabroxam

Dentro dos meus seios
Há o líquido da vida
Há o mar que liquida
E um libído de extasiar

Dentro do meu coração
Há uma ferida escondida
Há uma antiga despedida
Há o simples ato de amar

Dentro da minha cabeça
Há uma profunda tristeza
E fogo a me incendiar

Dentro de mim há ti
A entrar e a sair
Sem sequer me avisar.

Homem

Ele paga a conta de luz
Mas vive na escuridão de sua própria mente
Ele bota o pão na mesa
Mas não tem fome da liberdade que sempre lhe foi de direito
Ele tem um carro na garagem
Mas vive sedento de medo de andar com seus próprios pés
Ele possui uma janela panorâmica, de frente para o Cristo Redentor
Mas está no sufoco,
No ato de quase morrer.
Preso à uma magia cor de giz.
Há água em sua torneira
Mas tem a alma suja, e acredita que há nisso alguma coisa poética
Ele não tem lágrimas,
Ele não tem coração,
Ele nunca soube o que é chorar.
Há dentro dele apenas um pássaro...
E um pequeno desejo em seus olhos:
Boiar n'um imenso mar sem fim.
Em seu infinito não quer a luz,
O carro,
A janela,
Ou a água
Quer apenas o pão
Quer a liberdade para ser o que é
Quer matar a fome
Fome que não tem fim.
Carne.
Cabelos.
Ossos.
E uma injeção de anthrax para acalentar a alma
Deterioram-se no palpitar do relógio os olhos tristes da solidão,
e vão se pondo,
dando lugar a carne prostituida da mulher que já não sabe o que faz.
Simples seria não viver ao ter que ver um resto de pureza escorrer como lágrimas pelas ruas da bela Paris...
Pelas águas do Canal da Mancha, até algum lugar finito que não tenho conhecimento.
Talvez a casa de alguém.
Que massificação é a infelicidade
Mãe da utopia
Mãe da poesia
No final, mãe de ninguém.
Só resta o fundo do poço
Nada de nada
E Edith...
nua e póstuma no frio da cidade que a condenou.