terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Uma história de amor e sol.


Era uma vez, um rapaz branco, de cabelos cor de mel, e que quando sorria sua boca formava um coração.
ele não era o mais sociável dos rapazes, nem o mais sedutor, e as vezes ficava dias trancado no quarto, comendo pipoca e assistindo filmes antigos.
Ele não gostava muito de calor humano, por isso, quase não saia de casa.

Exceto nos dias que o sol mostrava todos os dentes, porque aí podia sair sem guarda-chuva. E, aliás, era quando podia vestir a sua camiseta favorita: Branca e de tecido egípcio, sem nenhum tipo de estampa. Enquanto as pessoas reclamavam do calor, ele sorria.

Você pode achar que ele era só, que ninguém se importava com ele. Mas não é verdade.
Ele era cheio de vida. E quando saia no sol, seus cabelos chamavam atenção por onde quer que passavam. Não havia uma só mulher que não suspirasse o exalar daquele belo homem.

Mas ninguém é feliz só com os desejos de mulheres desconhecidas, não é? E é por isso que ele tinha um... besouro. Não! Besouro não! Besouro é um animal de seis patas e casco muito duro. Ele tinha um cachorro.

Mas cachorros não falam, e qualquer ser humano precisa de alguém para conversar. É por isso que ele tinha uma correspondente. Quando não estava um dia ensolarado - e seus cabelos cor do melhor doce que eu já provei não ressaltavam- , ninguém nunca se interessava por aquele rapaz tão pacato e simples, por isso um amor de correio era perfeito.

E era também por isso que ele morava na Noruega, assim, ela nunca precisaria vê-lo. Só que ele a amava e sentia-se culpado por estar tão longe dela.

Uma vez, andando na rua, conheceu uma mulher chamada Isabela. Que o fazia lembrar de uma frase em português que diz " Isso é belo" ou " Essa é bela" e até "Assa a Bela". E a convidou para um chá - sim, o seu cabelo estava cor de mel cintilante nesse dia. Descobriu que era escritora e descobriu seu endereço. Assim, passou a vê-la todos os dias até enjoar dela. Era perseguido. Ela dizia " você é a inspiração que eu preciso" e ele queria dizer " ASSEM A BELA ISABELA!" Ela cismou que ele era Oscar Wilde. A sorte dele é que além de ter cismado isso, ela cismou que seu cachorro era um lobo. É que a coitadinha era míope.

Mas isso não quer dizer que nosso rapaz não era inspirador. De certo, a sua benevolência era quase um rio de inspiração. Mas nunca quis servir de estro para uma mulher que não tinha amor. Ele não era "normal" como os outros homens para se sujeitar a isso, pelo menos, não normal a este ponto. Era porém, Feliz. Feliz, pois amava alguém.

Num dia de chuva, percebeu que sua felicidade ia acabando, e não sobrava nada para ele se alimentar - Sim, ele se alimentava de sua felicidade. Resolveu, então, partir para Toullouse e deixou o cachorro com a Isabela -riu quando imaginou ela correndo assustada por causa de um inofênsivo cachorro. Dormiu um pouco durante a viagem - com um papelzinho amassado na mão o tempo inteiro- e ao chegar, tomou um taxi até Impasse de Bittet, 401. Quando chegou, tocou a campainha.

"Ai, meu deus, Me ajuda" Ele pensou. Era um típico ateu não praticamente. Acendeu um cigarro e pensou "O que eu estou fazendo aqui?" Ele sabia o que estava fazendo lá, só faltava admitir. Resolveu brincar um pouco com aquilo, já tinha aprendido algumas coisas no teatro.

Assim, uma bela moça abriu a porta e viu aquele homem alto, de cabelo partido para o lado, com um cigarro na boca. Ela era meio burrinha, não tinha sequer perguntando "Quem é?" antes de abrir a porta. Mas tudo bem, aquilo deu margem maior para a peça teatral. Tudo bem, ela estava meio nervosa para isso.

ela olhou e pra ele e disse:
-Quem é você?
Ele tirou o cigarro da boca. Sabe o que ele falou? Você nunca vai adivinhar. Se você adivinhar eu te dou um chocolate e um beijo na boca de trinta segundos.
Ele tirou o cigarro da boca, e disse:
-HUAS MEIN LIEB BORTS.
E completou:
-Mein venit fuigs beqs hiem morte

Sabe o que ela fez? Ela começou a chorar, e o abraçou. E sabe por que voce nao entendeu o que ele disse? Porque ele falou norueguês!

Vou traduzir:
-Sou o irmão do seu amor-correio.
E completou:
-Vim aqui pra te dizer que ele morreu.

Quando ela finalmente parou de chorar, um gato parado na porta pulou em cima do nosso rapaz e arranhou 3/4 do braço dele. Ela o ajudou, apesar de recomeçar a chorar - O que o fez liquidar de vez com o seu papel de irmão de si mesmo.

Ele disse, como quem está quase morrendo de remorsso:
- Querida, pegue seu casaco vermelho, e largue os pincéis e o café.

Ela o olhou meio "hãn?" E ele percebeu. A angústia aumentou. E para disfarçar, claro, deu uma tragado no cigarro, um meio sorriso, e completou:
-Aqui não está chovendo, mas na Noruega está. Não pegue seu guarda-chuva, porque eu sou dono de uma fábrica de guarda-chuvas e te darei quantos você quiser.
Ela o olhou e disse:
-AMOR-CORREIO, É VOCÊ?
E ele respondeu:
-Não. Eu não sou mais seu amor-correio. Sou seu amor-presente.

Então, ela se virou, saiu correndo, pegou o casaco vermelho (do qual sempre falou tanto para ele), jogou o gato pela janela. Ele achou inclusive que fosse para punir o pobre felino. Mas não era. De certo estava apenas libertando-o. Ela não era má -talvez um pouco ingênua.

Ela voltou correndo. Chegou até a porta. Olhou para trás afim de saber se não estava esquecendo nada e deu um beijo (de trinta segundos) no nosso querido ator. Os dois partiram para Noruega. Fizeram o possível para serem mais que felizes. Ele e sua amada, A escritora míope e novo cachorro dela.

Ps: Foi eternamente sol na cidade dele.

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