terça-feira, 20 de abril de 2010

A Liberdade e a Flor

I

As tuas sete bocas
Que comiam rosas e frutos,
Que cantavam líros nas ruas,
Agora mastigam relógios.
Mastigam as grandes festas
E depois vomitam mentiras e vergonha.

Tu te tornas um monstro, mulher.
Em uma terra de gente que é monstro também.
E fazes isso para que alguma coisa te diga que
"Não estás sozinha nesse mundo"


Mas és sozinha.
Nesta vida de homens abortados

De dinheiro e de desgraça
nas supostas orações de um Rosário.


II

Dentes.
Posso arrancá-los todos com um só murro.

Mas eu não te tomaria
o direito de ter dentes.


Vem cá
Chegou a hora de colocar a mordaça


Para que tu vejas
na tua desgraça
Que tens dentes
Não obstante
Que não pode usá-los
Que estás no sufoco
Que estás no silêncio
Que tua grandeza volveu ao nada
Caíste em desapego.


III


A tua vida passa agora
Na frente da minha janela
Como uma ave de rapina
Que voa ligeiro,
colecionando pedaços de céu.


E quando reconheces tua tirania
É tarde demais
É agonia
E cais pálida e em pó,
tal qual fênix
rodeando os belos Ipês



IV


Agora eu afirmo
Quase que contrariado
E muito em segredo
De mim para mim
Que a mulher que amei
Criatura ínfida em minha alma
Se jogou ontem,
ao meio dia,
da ponte de Itabira.
Caiu na cabeça de Dante
Que ao conhecer tamanha beleza
Gritou:
Batatas! Batatas!


V


Batatas. Era o que procurava o homem
Que despencou do andaime
Mas ninguém notou.
Era o que o homem, ao inguiçar a âncora sonhava
Mas ninguém notou
A queda foi violenta
Lenta.
Vio.
Violeta.
Cor de chumbo, Cor de água.
Cor de nada.


Eram todos criaturas ínfidas.
Mas ninguém nunca notou.


VI


É por isso que os homens de terno
gostam tanto de verbos,
de notas
e de copos cheios de cicuta.
Gostam do grito que sai dos verbos
Mesquinhos,
mal mordidos,
minimalescos.
e que gritam:
"Eu não sou demagogo"


Só que és,
és verdadeiramente inescrupuloso
Como o Radical
Que de tão ditador ficou sozinho.
Apenas com seu medo engasgando a garganta.


VII


E tristes vão,
abrindo covas e se enterrando.
Até que suma,
n'um rastro de desespero,
A Liberdade e a Flor
da mulher que eu tanto amei.


E que nos encaminhemos n'um rumo sem volta
até São paulo
Que esqueçamos Itabira.
Porque aqui não cabe o ato de amar
Só cabem mentiras recortadas de artigos políticos
E que caem
mordidas
para sempre.

terça-feira, 6 de abril de 2010

protesto.


Você pode me julgar como quiser,e inclusive pensar que meu hábito é inferior aos bons costumes de vossa estimável burguesia, porém, não pude deixar de ouvir a chacota de três aborígenes que seguravam suas pastas de couro(como se fossem ouro), e descobri que na terra que o presidente da república tem apenas dezenove dedos e que o povo rico se veste todo em Black tie, o humor brasileiro advém da desgraça dos homens. O desespero alheio vira comédia dentro do senado e o direito à vida é eternamente impedido de ocupar os oitenta e um lugares de uma utópica democracia.

Após esse fato- e posso afirmar que muito lamentável-, sentei-me na varanda do meu quase-quarto - que muitos a chamam de suicida por não ter parapeito- e tive o desprazer de ver um homem ser assaltado.
"E agora, Deus?" ele certamente interrogava isso de si para algum cosmo que não pôde deter sua desgraça " Cadê o dinheiro do pão e do leite?"

É nesta selva de covardes leões e pobres cordeiros que o céu parece estar um pouco mais longe de nós, e nos faz ficar até um pouco infelizes e melancólicos, e talvez, seja por isso que o desafortunado assaltado sentou-se ao meio fio e pôs-se a olhar o asfalto – decerto não encarava o céu por não precisar se sentir pior do que já estava.

Se ele chorou, não sei dizer. Certamente eu o faria em seu lugar. Poderia ele até mesmo ser um ladrão - e como diz aquele ditado popular: Ladrão que rouba ladrão...
Não! Ninguém possui o direito de tirar o leite e o pão de uma boca que grita sedenta e faminta.

A minha revolta talvez tenha sido maior que os meus pés, pois se eu pudesse cronometrar o tempo que levei para adentrar a sala diria que foi todo o tempo do mundo, e que nos exatos momentos em que andava, emergia de dentro de meus olhos cansados uma vontade subumana de abraçar o mundo e acalentá-lo por um pouco – quem sabe eu poderia curar-lhe algumas dores e ainda fazer-lhe alguns mimos de amor.

Mas, se a vontade de ser mãe de uma nação por alguns instantes é grande, a verdade de não poder fazer muito mais que lamentar-me é maior ainda, e cai em cima do tapete persa em forma de gotículas salgadas. O mais estranho é que sentir dor ou alegria por isso é algo que me foge o juízo.

É nesta terra seca que os homens marcham com capacetes e vendas, formam um conjunto e quando olham para si estão vazios.
É nesta terra seca que as mulheres tecem rosários hipócritas, formando uma sociedade e permanecendo sozinhas em seus leitos.

Eu quis correr em direção à varanda e eu corri
Eu quis pular para talvez chegar próxima ao triste rapaz da calçada,(e quem sabe, abraçar-lhe) e eu pulei.
O mundo e as coisas continuam iguais e talvez nunca compreendam o meu protesto.
Porém, eu o fiz.