terça-feira, 6 de abril de 2010

protesto.


Você pode me julgar como quiser,e inclusive pensar que meu hábito é inferior aos bons costumes de vossa estimável burguesia, porém, não pude deixar de ouvir a chacota de três aborígenes que seguravam suas pastas de couro(como se fossem ouro), e descobri que na terra que o presidente da república tem apenas dezenove dedos e que o povo rico se veste todo em Black tie, o humor brasileiro advém da desgraça dos homens. O desespero alheio vira comédia dentro do senado e o direito à vida é eternamente impedido de ocupar os oitenta e um lugares de uma utópica democracia.

Após esse fato- e posso afirmar que muito lamentável-, sentei-me na varanda do meu quase-quarto - que muitos a chamam de suicida por não ter parapeito- e tive o desprazer de ver um homem ser assaltado.
"E agora, Deus?" ele certamente interrogava isso de si para algum cosmo que não pôde deter sua desgraça " Cadê o dinheiro do pão e do leite?"

É nesta selva de covardes leões e pobres cordeiros que o céu parece estar um pouco mais longe de nós, e nos faz ficar até um pouco infelizes e melancólicos, e talvez, seja por isso que o desafortunado assaltado sentou-se ao meio fio e pôs-se a olhar o asfalto – decerto não encarava o céu por não precisar se sentir pior do que já estava.

Se ele chorou, não sei dizer. Certamente eu o faria em seu lugar. Poderia ele até mesmo ser um ladrão - e como diz aquele ditado popular: Ladrão que rouba ladrão...
Não! Ninguém possui o direito de tirar o leite e o pão de uma boca que grita sedenta e faminta.

A minha revolta talvez tenha sido maior que os meus pés, pois se eu pudesse cronometrar o tempo que levei para adentrar a sala diria que foi todo o tempo do mundo, e que nos exatos momentos em que andava, emergia de dentro de meus olhos cansados uma vontade subumana de abraçar o mundo e acalentá-lo por um pouco – quem sabe eu poderia curar-lhe algumas dores e ainda fazer-lhe alguns mimos de amor.

Mas, se a vontade de ser mãe de uma nação por alguns instantes é grande, a verdade de não poder fazer muito mais que lamentar-me é maior ainda, e cai em cima do tapete persa em forma de gotículas salgadas. O mais estranho é que sentir dor ou alegria por isso é algo que me foge o juízo.

É nesta terra seca que os homens marcham com capacetes e vendas, formam um conjunto e quando olham para si estão vazios.
É nesta terra seca que as mulheres tecem rosários hipócritas, formando uma sociedade e permanecendo sozinhas em seus leitos.

Eu quis correr em direção à varanda e eu corri
Eu quis pular para talvez chegar próxima ao triste rapaz da calçada,(e quem sabe, abraçar-lhe) e eu pulei.
O mundo e as coisas continuam iguais e talvez nunca compreendam o meu protesto.
Porém, eu o fiz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário