quinta-feira, 2 de julho de 2009

Cor das Nuvens


Quando eu era pequeno - mais ou menos do tamanho de um grão de arroz - me tornei uma aberração. E quando tive consciência para entender isso - e de arroz agora só tinha a cor - quis me isolar.Eu ouvia minha mãe gritando da cozinha para a sala, perguntando: - Para onde você vai, Miguel? Para onde? Para onde? E eu respondia: - Para onde o vento vai, Senhora? Você sabe a resposta, não é? Para todos os lugares sem quase nunca se ser notado. Meu maior problema foi ter nascido branco demais, da cor de leite, sabe? cor das nuvens... por isso sempre troquei o dia pela noite, onde eu podia imaginar o meu corpo fazendo parte das nuvens, imaginar o meu corpo fazendo parte das nuvens, para descansar logo no céu (mesmo que em pensamento).Eu dizia para mamãe não se preocupar porque a vida era viva demais para ser perdida, mas na verdade eu tinha nojo de minha mãe. Ela vivia querendo mais do que podia; E o que tinha depois de um tempo não lhe servia mais. Não tinha moral nenhuma e só queria saber de festas e maquilagem, enquanto a sua casa vivia de pernas para o ar...com ar entre as pernas -como as nuvens. Talvez, a única amiga que tive na vida foi uma cobra, que encontrei em cima de meus livros de algebra, e me tirou a vida no dia em que minha mãe havia saido para ir ao salão e esqueceu de fechar as janelas.
Aqui Jaz um coração.Miguel.
morte: 07/07/69

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