segunda-feira, 3 de agosto de 2009


Vamos conversar, Amor?

Deixa eu te falar...Você é um doce, e não digo isso porque quero seu amor para mim, e sim porque você é, realmente, um daqueles docinhos de cajú deliciosos- como os de minha mãe.
Por que ontem - quando seu time perdeu - você chorou tanto que seu rosto ficou vermelho.
E não adiantava te consolar, você queria curtir sua dor, assim como sempre quer curtir tudo que existe nesse mundo - e muitas vezes não dá tempo para tanta coisa.
Porque você tem um casaco preferido e o usa todo dia para ir onde quer, jamais negará uma saída sequer ao seu querido pedaço de pano envelhecido.
Porque quando você sorri, seus lábios parecem de crianças, e seus dentes, espelhos reluzentes de esperança a me iluminar.

Mas eu já estou beirando uma idade superior à sua, e não aguento mais, Amor, te ver correr da Augusta até a Paulista e parar do nada para olhar o céu e gritar bem alto que cansou do trânsito e quer ir para Londres.

Eu não aguento mais ver você na elétrica vontade de poder tudo, enquanto eu quero descansar o tempo todo que eu tiver.

É monótono ver o seu café e o seu cigarro todo dia de manhã e te ver voando da sala para o quarto procurando a sua pasta de trabalhos vazios.
E o engraçado é que quando você fecha a porta, desce as escadas, e sai andando na rua, eu fico quietinha vigiando com cuidado os seus passos pequenos,que parecem uma dancinha de baratinhas felizes, à procura de algo alegre.
Porque na verdade, você é um jovem que tem fome de tudo a todo tempo, e quer ser tudo que pode o tempo todo. É porque, você, menino que chora, que usa casacos velhos, que grita no meio das pessoas - e que todos sabemos que para você são apenas pobres pessoas-, que quer mudar-se para Londres, que procura pastas vazias e secas e que anda dançando como pequeninos insetos, é muito mais do que eu posso ter,
do que eu posso possuir...
Porém, é tudo que eu posso amar.

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